quinta-feira, 15 de outubro de 2009

A Familia Achê - Chegada ao Brasil - Ribeirão Preto, SP



Os pioneiros decendentes da familia Achê deixaram a Siria na região de Hims para o Libano onde embarcaram no ínicio do século e migraram para Ribeirão Preto por volta de 1910, a convite de amigos, que tambem haviam deixado o país Asiatico para fugir da pobreza e tentar uma vida digna na promissora terra do café.


 O patriarca Manoel Achê nasceu em 30 de Outubro de 1886, na Siria, onde se casou com Martha Miguel Achê.

 Lá, tiveram o primeiro de seus onze filhos, Antonio Achê, nascido em 5 de Junho de 1905. Ao desembarcar em Ribeirão Preto, a familia não tinha muito dinheiro e as poucas economias de Manoel foram impregadas na montagem de um armazém na Avenida Saudade, nos Campos Elisios.



Em Ribeirão Preto, nasceram os outros filhos do casal: Nicolau, Inácio, João, José, Elias, Alfredo (Fué), Rubens, Sérgio, Gioconda e Farid.


Antonio, o filho mais velho, começou a ganhar dinheiro como viajante, comprando e vendendo fumo e carros em Ribeirão Preto e Goiás. João trabalhava em Campinas, em uma fábrica de maquinas de costura, enquanto Inácio era funcionario da Companhia de Força e Luz, em Ribeirão Preto, sendo o responsavel pela colocação de postes nas fazendas da cidade e da região. José aprendeu o oficio de farmaceutico e tornou-se auxiliar de farmacia. Alfredo, chamado pela familia de Fué, nome Sirio, era bancário, e Nicolau era representante comercial de uma grande empresa de cigarros. Os caçulas Rubens e Sergio só começaram a trabalhar quando o irmão Antonio montou a empresa de onibus.




Com o final da Segunda Guerra Mundial, Ribeirão Preto estava mal-estruturada, com serviços ineficientes de telefone, distribuição de agua e sistema de transporte coletivo em Ribeirão Preto, quando os onibus da cidade ainda eram movidos a gasogenio. A familia resolveu investir pesado em uma moderna frota de onibus urbanos para a cidade.

 Na época, o municipio possuia apenas veiculos velhos e superados. O patriarca Manoel Achê vendeu o armazém e ajudou o filho Antonio, que havia juntado razoavel quantia em dinheiro como viajante, a abrir uma empresa de onibus urbanos. Trabalhando duro, o pai e os filhos investiram nos modernos GM Coach, e, na decada de 50, as ruas de Ribeirão Preto ja eram servidas por 15 carros, que cobriam varias linhas, e outros cinco carros reservas, para emergencias. As linhas serviam a cidade em todas as direções: Alto do Barracão, Bosque, Vila Virginia, Higienopolis e Vila Tiberio. A empresa tambem inaugurou os horarios noturnos, como o de meia-noite e meia para os trabalhadores que ficavam nas empresas até mais tarde.

No inicio, o negocio era tocado exclusivamente pela familia. Os 11 irmaos trabalhavam dia e noite para que os onibus pudessem circular pelas ruas. Nao fossem os problemas e as dificuldades enfrentadas, a empresa de onibus Antonio Ache & Cia Ltda. poderia estar em funcionamento até hoje.


 Em 5 de Julho de 1949, a empresa firmou um contrato com a Prefeitura para exploração do transporte coletivo de passageiros, por meio de concessão, pelo periodo de 30 anos. A empresa da familia prosperou até meados da década de 50. No entanto, depois desse contrato, os irmãos começaram a enfrentar dificuldades, pois não tinham permissão para aumentar a tarifa. As peças de reposição para os veiculos tinham de ser importadas.


Cada vez mais pressionados, os Achê não puderam dar continuidade a firma, que na epoca empregava cerca de 60 funcionarios.  Em 24 de maio de 1956, a empresa entrou em colapso e os onibus foram recolhidos a garagem, onde permaneceram por cerca de tres anos tomando sol e chuva.  Nesta mesma data, a fiscalização da Prefeitura comparecia ao escritorio da Antonio Achê & Cia Ltda., localizado na rua General Osorio para comunicar a familia que seria dado inicio ao imperio da Viação Cometa na cidade, a nova concessionaria de transporte coletivo.


Antonio Achê vendeu a frota de onibus, a garagem, localizada na rua Tamandaré, o posto de gasolina, situado na esquina das ruas Visconde de Inhauma e São Sebastião , e a agencia de carros importados Dodge, ao lado da Catedral.  Pegou o dinheiro e construiu um edificio residencial em São Paulo, no bairro Higienopolis, dando-lhe o nome de seu pai.



Pioneiro em Ribeirão Preto no ramo de carros importados, Antonio era considerado uma pessoa solidaria e diferenciada, que andava de carro importado e adorava fumar cigarros norte-americanos, luxo só permitido as grandes personalidades da epoca.  Depois do fechamento da firma., cada um dos irmãos seguiu um rumo diferente.



O patriarca da familia faleceu em 10 de Junho de 1953, vitima  de problemas cardiacos.  Em 30 de Abril de 1962, sua esposa tambem faleceu, em Ribeirão Preto.  O idealizador da empresa, Antonio Achê , resolveu aplicar todo o dinheiro ganho com a venda dos apartamentos na construtora Tres Leoes, de São Paulo, que repassava os juros das aplicações aos irmãos Achê.  Antonio morreu em 11 de outubro de 1962, vitimado por um enfisema pulmonar, e foi o unico dos irmãos a não deixar descendentes.  Após a venda da empresa de onibus, Rubens, Alfredo e José passaram a trabalhar como corretores de imoveis.  Sergio vendeu carros e Inacio ajudava a amiga Geni a cuidar de uma loja de frutas e vitaminas aberta por ela.


Nicolau Achê, nascido em 6 de julho de 1911, tornou-se o encarregado da garagem dos onibus na empresa da familia e tambem seguiu carreira de jogador de futebol, tendo atuado no Comercial, Botafogo, Corinthians e Fluminense.  Na equipe carioca, Nicolau jogou ao lado de Elba de Padua Lima, o Tim.  De acordo com familiares, teve a chance de disputar a Copa do Mundo de 1938 ao ser convocado para a seleção brasileira, mas acabou fugindo da concentração e dispensado pela comissão técnica.  Fora do âmbito esportivo, familiar e profissional, exerceu um importante papel de guia espiritual, pois era sensitivo e usava seu carisma para praticar boas ações.  Com a ajuda do medium Geraldo Ramos, durante muito tempo gravou palestras eruditas, com um estilo literario a moda do inicio do seculo, atribuidas a um suposto espirito chamado Cirineu, que seria o sabio Luiz Pereira Barreto, um dos mais importantes intelectuais de Ribeirão Preto.

Apesar do carisma que possuia, jamais dedicou-se ao dogmatismo religioso, seja fundando centros ou impondo pontos de vista.  Era ecumenico e o dom da cura, para ele, era uma especie de pronto-socorro espiritual de muitos aflitos.  Em seu trabalho, não media sacrificios pessoais e nem objetivava qualquer recompensa.  Seu forte era a reza, principalmente o "Pai Nosso" .  Procurava orar sempre, num ritual simples, chamado passe.

Nos tempos de repressão, entre 1964 e 1969, empenhou-se junto as autoridades revolucionarias, muitas espiritas, com o objetivo de conseguir melhor tratamento para os presos  politicos.  Modelado por suas cinrcunstancias, Nicolau Achê teve uma postura proxima a dos primitivos cristãos.  Viveu de modo paulatino, da mocidade a velhice, um processo de continua espiritualização, que o levou a morte tranquila, enquanto dormia.  O ex-chefe da garagem dos onibus da empresa da familia foi vitima de problemas cardiacos e faleceu em 3 de maio de 1991, pouco antes de completar 80 anos.  Seu irmão Rubens que chegou a jogar no Botafogo, foi assassinado no Jardim Irajá, em Ribeirão Preto, Rubens notou que um homem disparava tiros em varias direções e quando tentou pedir calma ao rapaz para que não machucasse ninguem, acabou atingido no baço por uma bala, foi levado ao hospital, mas não resistiu ao ferimento e faleceu.

Outros dois irmãos Achê faleceram em decorrencia de jogos de futebol.  Sergio estava apitando um jogo amistoso entre jogadores e amigos do Comercial, em 1986, quando teve uma rispida discussão com um amigo, cobrando que jogassem com paixão e amor a camisa.  Depois de passar mal e ser encaminhado ao hospital, não resistiu e tambem morreu.  Já o irmão Inacio faleceu durante um jogo do Comercial, no antigo campo da Mogiana.  A equipe de Ribeirão Preto vencia a Internacional de Bebedouro por 3 a 0, ainda no primeiro tempo, quando Inacio não resistiu a emoção pela vitoria de seu time e teve uma parada cardiaca fatal no proprio estadio em 18 de maio de 1958.  Com sua morte, a partida acabou interrompida.

Em homenagem a uma das familias percusoras do transporte coletivo em Ribeirão Preto, há duas ruas no Jardim Irajá com os nomes de Manoel Achê e Antonio Achê, e outra no Maria Casa Grande Lopes que leva o nome de Nicolau Achê.  O antigo terminal de onibus municipal, transformado no Centro Popular de Compras, tambem levava o nome de Antonio Achê.  Alem dos pais quase todos os filhos morreram em decorrencia de problemas cardiacos, com exceção de Antonio, vitima de um enfizema pulmonar, e Rubens, que foi assassinado.

Os descendentes diretos de Manoel Achê deixaram 29 filhos e nenhum deles resolveu aventurar-se em empresas de onibus e automoveis.  Apenas Fabricio Achê, bisneto de Manoel e neto de Inacio, seguiu a carreira do tio Antonio e montou uma garagem de automoveis em Sertãozinho.

fonte:  Fasciculo n. 33 parte integrante da Revista REVIDE n. 183.  Texto:  Paulo Viatri:  Fotos:  Julio Sian, Arquivos Revide.